Vladimir Soloviev ensinava que a ciência, a religião e as ideologias são formas de conhecimento coletivas, em contraste com o caráter essencialmente pessoal e individual da filosofia. O que pode mascarar essa realidade ao ponto de torná-la irreconhecível é o fato de existirem enfoques não-filosóficos da filosofia que arriscam assumir a identidade dela mais ou menos como se o jornalismo esportivo se fizesse passar por uma modalidade de esporte, ou um livro de culinária por uma espécie de alimento. Um desses enfoques é o histórico-filológico, que, embora indispensável ao estudo da filosofia, não é filosofia de maneira alguma e só é vendido como se o fosse quando o ensino dessa disciplina, como acontece na USP e em inúmeras outras universidades brasieirlas, se torna – para usar as palavras de Jean-Yves Béziau – a “macaqueação subdesenvolvida de um modelo degenerado”. Mas essa ainda é uma deformação erudita e de alto nível . Muito pior é quando a usurpação é de origem religiosa ou político-ideológica. A rigor, não existe filosofia no Brasil. Só erudição histórico-filológica, pregação religiosa e propaganda política. Isso equivale a dizer que, nesse meio, nunca as idéias de um filosofo são compreendidas no seu próprio nível de comunicação, mas invariavelmente usurpadas e engolidas por algum outro tipo de discurso. O mais desastroso é, evidentemente, o açambarcamento ideológico – no mais das vezes, totalmente inconsciente – que acredita poder interpretar as palavras de um filosofo nos termos da propaganda política ou de um discurso de campanha eleitoral. Nada, absolutamente nada do que se lê na internet ou na midia com pretensões de “crítica ao pensamento de Olavo de Carvalho” ultrapassa o nível dessa confusão quase animalesca.Ò

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