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Rombo de segurança

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 22 de janeiro de 2009

Alguém espalhou pela internet o boato de que a filha de Leon Panetta, o escolhido de Barack Hussein Obama para chefiar a CIA, era comunista e amiga de Hugo Chávez. Vários blogs conservadores morderam a isca e repassaram a história, amparada numa foto de Linda Panetta – este o nome da criatura – ao lado do caudilho venezuelano. O problema é que Leon Panetta só tem filhos homens, três ao todo, e nunca viu a mocinha até o dia em que a foto dela apareceu na internet.

O episódio e os comentários sarcásticos que suscitou na mídia iluminada só serviram para desviar as atenções populares de uma outra notícia que, totalmente omitida pelos jornais e TVs, circulava pela rede no mesmo instante. Escrita pelo repórter holandês Emerson Veermat – um profissional cuja seriedade na pesquisa jornalística já obteve elogios do governo do seu país –, ela informa que Leon Panetta não precisa de nenhuma filha para lhe arranjar ligações comprometedoras com o movimento comunista: ele tem as suas próprias, diretas e muito mais sérias do que a simples amizade com um pop star da esquerda. Como membro do Congresso, ele deu ostensivo apoio ao Institute for Policy Studies (IPS), um think tank esquerdista e raivosamente anti-CIA presidido por um cidadão de nome Richard Jackson Barnett, que segundo o FBI é mais que suspeito de ser um agente da KGB. A reportagem de Veermat está em http://www.pipelinenews.org/index.cfm?page=vermaatciaid=1.8.09.htm.

Sustentado pelo dinheiro do milionário pró-comunista Samuel Rubin (cuja Samuel Rubin Foundation também subsidia no Brasil o Instituto “Sou da Paz”), o IPS não se limitou a tomar partido dos comunistas na guerra do Vietnã e a armar várias campanhas de propaganda contra a CIA – atividades que, em si, não o distinguiriam de qualquer organização militante de esquerda. Ele foi muito além disso, organizando operações de inteligência, altamente sofisticadas, para dificultar o acesso da agência a informações que pudessem prejudicar o bloco comunista. O coordenador dessas operações foi o ex-funcionário da CIA Philip Agee, que mais tarde se confirmou ser um agente da inteligência cubana e da KGB. Entre outras realizações notáveis, o IPS, através da sua filial em Amsterdã, ajudou na publicação da revista Counterspy, onde Agee revelou o nome de vários agentes secretos da CIA, um dos quais, Richard L. Welch, foi assassinado logo depois. Não espanta que o IPS fosse descrito por Brian Crozier, diretor do London Institute for the Study of Conflict, como “a fachada intelectual perfeita para as atividades soviéticas”.

Como congressista, Leon Panetta delegou trabalhos importantes ao IPS – inclusive um projeto para a redução do orçamento militar americano – e ainda promoveu, junto com outros treze deputados, uma coleta de fundos para a festa de gala do aniversário da fundação da entidade em 1985.

As atividades subversivas do IPS já não são um grande segredo. Veermat baseou parte da sua matéria no relato meticuloso escrito por um ex-funcionário da organização, S. Steven Powell, Covert Cadre: Inside the Institute for Policy Studies, publicado em 1987 em Ottawa, Illinois, por Green Hill Publishers, Inc.

Mas nem todos os serviços prestados por Panetta aos inimigos dos EUA têm ligação com o IPS. Em 1997 foi ele quem, indicado por Bill Clinton, negociou a proposta de ceder aos chineses o estaleiro da Marinha em Long Beach, o que na época foi denunciado como um evidente risco para a segurança nacional americana (v. Rowan Scarborough, “Solomon: Is Cosco strategic threat? Long Beach deal triggers concern”, no Washington Times de 20 de maio de 1997, reproduzido nos Anais da Câmara de Representantes, em http://thomas.loc.gov/cgi-bin/query/D?r105:1:./temp/~r105Cp2PD0::). Convém recordar que diretores da estatal chinesa interessada, a Chinese Ocean Shipping Co. (Cosco), haviam feito substanciais contribuições em dinheiro para a campanha presidencial de Clinton.

Por qualquer critério mínimo de segurança, um candidato com esse curriculum vitae jamais seria aceito como agente ou mesmo como estagiário da CIA ou de qualquer outro órgão de inteligência americano. Panetta na direção da CIA não é uma falha de segurança: é um rombo. Mas, se um cidadão de nome árabe pode ser presidente dos EUA sem ter de mostrar nenhuma prova genuína de nacionalidade – e se a simples sugestão de que ele deveria apresentar essa prova é violentamente reprimida como sinal de paranóia, racismo, “teoria da conspiração” ou no mínimo falta de polidez –, então certamente deve ser impolidez maior ainda, se não pecado mortal, pretender que o diretor da CIA, apontado por governante tão excelso e intocável, deva submeter-se a algum requisito de segurança.

Tão grande é o temor de ser acusado dessa impolidez, que o próprio Veermat se abstém de insinuar que Panetta seja um colaborador consciente dos serviços de inteligência russos ou chineses. Como já se tornou de praxe nessas situações, ele atribui inteiramente à ingenuidade e à incompetência as sujeiras comunistas em que o escolhido de Obama se meteu.

Mas, nessas horas, uma idéia não me sai da cabeça. Sei que é crime hediondo dar alguma razão ao falecido senador Joe McCarthy, mesmo em coisas mínimas, mas ele costumava dizer algo que, no caso Panetta, vem muito a calhar: “Pela lei das probabilidades, não é verossímil que erros cometidos por mera incompetência ou acidente favoreçam sempre o outro lado, jamais o nosso.”

Normas de redação

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 13 de janeiro de 2009

Confissões de Luiz Garcia, um dos potentados da redação de O Globo, reveladas durante um simpósio da University of Tulane, em março de 2008, por Carolina Matos, em conferência intitulada (sem ironia aparente) Partisanship versus professionalism:

“Fizemos um enorme esforço para atrair o pensamento esquerdista para O Globo. E fizemos isso em tal extensão que depois tivemos de procurar um direitista que escrevesse bem, e escolhemos Olavo de Carvalho, o que hoje lamentamos um bocado. Toda a esquerda tem acesso ao Globo: Élio Gaspari, Zuenir Ventura, Veríssimo… E também os ativistas, as ONGs. Estamos fazendo uma coisa balanceada.”

Leram? Leiam de novo. Com o maior ar de inocência, com aquela consciência limpa de quem não quer sujá-la num confronto com os próprios atos, o criador da página de opinião de um grande diário brasileiro apresenta sua noção de jornalismo balanceado, isento, equilibrado: franquear as páginas do jornal para “toda a esquerda”, um exército inteiro de editorialistas, cronistas, analistas e ongueiros, depois camuflar o partidarismo concedendo um espacinho a um – isso mesmo: um, um único – articulista de direita, em seguida reduzir um pouco mais esse espacinho e no fim ainda reclamar que o convidado, um brutamontes sem educação, ultrapassou a quota de direitice admitida. Em matéria de disfarce, isso foi tão eficiente quanto limpar bumbum de elefante com um cotonete.

Mas disfarçar era totalmente desnecessário: quem, entre as multidões, reclamaria do viés esquerdista do Globo? Brasileiro não lê jornal. Num país de 180 milhões de habitantes, a tiragem dos maiores diários, somada, mal chega a dois milhões de exemplares. A imagem que o zé-povinho tem dos jornais é a de trinta anos atrás: o Estadão ainda é os Mesquita, O Globo ainda é Roberto Marinho. Diga ao cidadão comum que O Globo é de esquerda, e ele rirá na sua cara com aquele ar de infinita superioridade que é o privilégio sublime da completa ignorância. De outro lado, o esquerdismo da mídia nacional é mais que hegemônico: é uma instituição tão antiga, tão sólida, tão tradicional e intocável que acabou por se tornar um estado natural. O jornalismo de esquerda já nem pode ser reconhecido como tal, pois há três gerações não existe um de direita que lhe sirva de contraste. A firme obediência ao programa esquerdista passa hoje como a encarnação mesma do profissionalismo idôneo, mainstream. Fanatismo, propaganda, distorção ideológica, só na coluna do Olavo de Carvalho, é claro. Pois não é que o safado teve a ousadia de contar para todo mundo que o Foro de São Paulo existia, quando a massa de seus colegas de ofício se empenhava solicitamente em ajudar essa central da subversão a crescer em silêncio? Por que ele não se limitou ao direitismo cool, educado, àquele amável direitismo de centro que festeja a eleição de Barack Obama como uma glória da democracia americana e de vez em quando até verte umas lágrimas (de crocodilo ou não) pelos terroristas mortos nos “anos de chumbo”?

Se querem entender como essa mudança aconteceu, leiam o livro de Alzira Alves de Abreu, Eles Mudaram a Imprensa (FGV, 2003). São “depoimentos de seis jornalistas que, na qualidade de diretores de redação, tiveram uma participação fundamental na reformulação ou na criação de órgãos de imprensa brasileiros nas últimas três décadas do século XX”. Dos seis entrevistados, cinco são esquerdistas. Só faltou, dessa geração de reformadores célebres, o Cláudio Abramo, que já tinha morrido. E Cláudio era um devoto de Leon Trotski. Isso, meus amigos, é a mídia brasileira. Ser esquerdista, no ambiente que esses homens criaram, não requer nem mesmo uma tomada de posição pessoal: é só você não pensar no assunto, e a força da rotina geral o arrastará insensivelmente para a esquerda sem que você tenha de assumir a mínima responsabilidade por isso.

Se Luiz Garcia parece não ter a menor consciência de que confessou uma manipulação abjeta, delituosa até, não é porque seja cínico de propósito: é porque, no meio em que ele vive, a insensibilidade moral para com os abusos do esquerdismo se tornou uma espécie de norma de redação.

Não é tarde para buscar a verdade

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 18 de dezembro de 2008

Agora que Barack Hussein Obama está oficializado como presidente eleito, mais do que nunca é de interesse vital, não só para os EUA, mas para toda a espécie humana, que a identidade do personagem seja investigada e trazida à luz. O país (ainda) mais poderoso do mundo não pode ser governado por um impostor que falsifica sua biografia e, como um ladrãozinho vulgar, esconde todos os documentos essenciais aptos a esclarecê-la. Uma pesquisa recente da AOL mostra que a maioria dos americanos pensa exatamente assim, apesar da pressão maciça da mídia empenhada em dissuadi-los.

É inútil alegar que a eleição prova a confiança dos americanos em Obama: os eleitores foram totalmente privados de informações sobre a questão da identidade, que só começou a ser noticiada na grande mídia, muito discretamente, depois das eleições. Os americanos votaram num símbolo, encarnado por um desconhecido. Agora querem saber em quem votaram.

Até o momento, a operação-abafa – a maior e mais cara de toda a história mundial – tem-se baseado nas seguintes alegações:

1. Os interessados em desvendar o mistério Obama são doentes mentais e fanáticos direitistas sem credibilidade. Pessoas respeitáveis – inclusive do campo conservador – não ligam a mínima para as investigações ou as consideram mesmo lesivas ao debate político.

2. O anúncio microscópico publicado no Sunday Advertiser de 13 de agosto de 1961 prova que Obama nasceu em Honolulu, que portanto seu atestado (certification) de nascimento é autêntico.

3. Chiyome Fukino, diretora do Departamento de Saúde do Havaí, confirmou que o documento confere com os registros originais arquivados naquela repartição.

A primeira alegação é puro argumento de autoridade: só vale como jogo de cena. As outras duas são desconversas cínicas.

O anúncio só informa que os Obamas tiveram um filho: não diz onde ele nasceu. Para piorar, nenhum dos vizinhos do casal se lembra de ter jamais visto a sra. Obama grávida ou com um bebê (v. http://www.wnd.com/index.php?fa=PAGE.view&pageId=83851). Ademais, há provas documentais de que, na data do nascimento do filho, a sra. Obama estudava e residia em Seattle, Estado de Washington, a duas mil milhas de Honolulu.

Quanto à sra. Chiyome Fukino, o que ela declarou foi exatamente o seguinte: “Averigüei pessoalmente e confirmo que o Departamento de Saúde do Estado do Havaí possui em registro a certidão original do Senador Obama, de acordo com as regras e praxes (policies and procedures) do Estado.” Nem uma palavra a mais. Ela não disse que os dados da certidão original (certificate) conferem com os da certification. Sobretudo, não disse que Obama nasceu em Honolulu – justamente o ponto que era preciso esclarecer, uma vez que as tais policies and procedures permitem que o Estado do Havaí registre nascimentos ocorridos no exterior.

Vendidas pela mídia, inclusive brasileira, como provas definitivas, e omitidos os fatos que as desmentem, essas duas alegações são fraudulentas até à medula. Fraudulenta é ainda a notícia de que as dúvidas quanto à nacionalidade de Obama foram dirimidas pela Justiça. Dos treze processos movidos no caso, nenhum foi examinado na sua matéria: os que foram rejeitados o foram por motivo técnico, sob a alegação de que os autores, não tendo sofrido prejuízo pessoal com a eleição de Obama, não possuíam legitimidade para processá-lo.

Muito mais sucesso teriam se, em vez de apegar-se à questão da nacionalidade, fossem direto a um juiz criminal, acusando Obama de falsificar documentos. No caso da certification, não conheço um só obamista que tenha ao menos lido por extenso as análises de Ron Polarik – mais de duzentas páginas – em http://polarik.blogtownhall.com, que não deixam margem a dúvida razoável. Mais patente ainda é a falsificação do alistamento militar: nem mesmo o Messias ungido pode assinar em 1980 um formulário impresso em 2008 (v. http://www.debbieschlussel.com/archives/2008/11/exclusive_did_n.html).

P. S. – Como eu escrevesse aqui que a certification não serve de prova de identidade nem mesmo para se obter uma carteira de motorista, dezenas de almas santas procederam a “verificações objetivas” e anunciaram que sou um mentiroso, que as certifications são aceitas em todos os departamentos de trânsito dos EUA. Há pessoas que, se você não lhes explica tudo tim-tim-por-tim-tim, não perdem a oportunidade de não entender nada e de brandir sua própria inépcia como prova de que esmagaram você num debate. Eu nunca disse que as certifications são rejeitadas: eu disse que, por si, não servem. E não servem porque todos os documentos apresentados para carteira de motorista são obrigatoriamente sujeitos a verificação. Não sendo a certification uma cópia do registro original, e sim um atestado de que o registro existe, só há uma maneira de verificá-la: comparando seus dados com o registro – é este, não a certification, o documento decisivo.

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