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Chega de discussão

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 16 de janeiro de 2008

Deixemos de lado os mentirosos conscientes, interesseiros. Vamos falar dos outros. Qualquer jornalista, acadêmico, político ou formador de opinião em geral que, a esta altura, ainda insista em colocar em dúvida seja a existência, seja a importância e o poder do Foro de São Paulo, é com toda a evidência um incapaz. Sua presença no debate público só serve para entorpecer a inteligência da platéia e torná-la ainda mais lerda em perceber o óbvio depois de dezessete anos de hesitações e tergiversações imperdoáveis — criminosas, na verdade — à sombra das quais a mais poderosa organização subversiva que já existiu neste continente pôde crescer sem ser notada por um povo inteiro, que tinha o direito e a necessidade absoluta de saber tudo a respeito.

Quando uma profusão de documentos de fonte primária, mais a confissão aberta dos personagens envolvidos e por fim, no III Congresso do PT, o reconhecimento oficial do Foro como central estratégica da revolução continental não bastam para convencer um cérebro de que a entidade existe e é terrivelmente influente, é que esse cérebro já perdeu a capacidade humana diferencial, que é a de perceber a realidade através da palavra, e conserva somente o dom simiesco de imitar com guinchados sem sentido a fala dos homens.

Admito debater, com comunistas, o valor ou desvalor, os méritos e culpas do Foro. Discutir sua existência e sua eficácia política, seja com comunistas, seja com não-comunistas (ou anticomunistas), é uma palhaçada a que não posso me expor. Minha paciência com a mendacidade de uns e a psicastenia de outros tem limites, e estes já foram transpostos há muito tempo.

Foi por pura generosidade e sentimento de dever patriótico que persisti oferecendo provas e mais provas quando elas já não eram mais necessárias a nenhuma alma sincera e a nenhuma inteligência normal.

Agora chega. Nenhum dever de caridade, nenhuma devoção à pátria podem obrigar um estudioso a expor-se à última desonra intelectual.

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Também não discutirei a sinceridade ou insinceridade do sr. presidente da República quando ele proclama que seqüestros são abomináveis e que não tem simpatia pelas Farc. O sr. Lula é um mentiroso abjeto, e ponto final. Já citei vezes inumeráveis o manifesto de solidariedade integral que o Foro de São Paulo, sob a presidência dele, assinou em favor da narcoguerrilha colombiana, no qual toda oposição do governo de Bogotá a essa gangue de assassinos era condenada como “terrorismo de Estado”; manifesto de louvor ao abominável, a que se seguiu anos depois, quando o tipinho já estava na presidência, a recusa terminante de aplicar às Farc o mesmo rótulo que naquele documento se concedia à pessoa do presidente Uribe e de todos os que morreram combatendo as hostes de Manuel Marulanda e Raul Reyes. Já mencionei vezes sem conta a imediata mobilização petista em favor de cada seqüestrador ou terrorista estrangeiro que a polícia prende neste país. Para que continuar insistindo no óbvio ante os que não querem vê-lo e os que não têm nem a coragem nem a capacidade de enxergá-lo?

Na Argentina os brasileiros são chamados de “los macaquitos”. Se aplicado à massa geral dos nossos compatriotas o apelido é injusto e difamatório, em outros casos – o da maioria dos formadores de opinião neste país – tudo o que ele tem de inadequado é o tom carinhoso do diminutivo. Macacos são, e dos grandes, sem o atenuante da idade tenra.

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Outra coisa que também já esgotou minha paciência é a constância obsessiva com que os temas inéditos das minhas colunas são reciclados, cinicamente, por opinadores iluminados que, sem jamais citar a fonte, vendem minhas idéias como fossem suas, reformatando-as, é claro, segundo o padrão de suas inteligências mal dotadas. Tornei-me o pauteiro oculto de uma multidão de criaturas vistosas. Os casos são centenas e já vêm desde 2001 pelo menos (v. Pauteiro da USP). Vou dar aqui só os dois exemplos mais recentes. Outro dia, o messianismo, conceito que aplico ao petismo com todo o rigor que aprendi em Norman Cohn , Luciano Pellicani e Eric Voegelin, reapareceu como artifício vulgar de retórica antipetista politicamente correta no artigo de Marcelo Otávio Dantas, “Messianismo e o credo petista”, Folha de S. Paulo , www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2312200709.htm . Agora, a contestação da vitória comunista na guerra do Vietnã, que os leitores do DC leram aqui em 7 e 14 de janeiro, reestréia com mais detalhes na coluna de Élio Gaspari do dia 16. Provavelmente Dantas e Gaspari, consultados a respeito, responderão que jamais lêem meus artigos. Claro: pessoas maravilhosas (no sentido que dei ao termo em O Imbecil Coletivo ) não lêem Olavo de Carvalho. Adivinham-no por genialidade espontânea.

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