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Estupro psicológico estatal

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 24 de julho de 2008

Não existe qualquer epidemia de violência contra os homossexuais neste país, mas, mesmo que houvesse, nenhuma lei contra opiniões religiosas poderia fazer nada para detê-la, pela simples razão de que, fora dos países islâmicos, casos de violência anti-homossexual por motivo de crença religiosa são a raridade das raridades, e no Brasil até agora não se comprovou nenhum. Rigorosamente nenhum.

Em compensação, a lei tornaria automaticamente criminosos e sujeitaria à pena de prisão milhões de brasileiros honestos, cujo único delito é acreditar na Bíblia. Eles poderiam ser presos não só por ler em voz alta versículos tidos como “homofóbicos”, mas por protestar contra qualquer casal gay que, por mera provocação ou genuína falta de autocontrole, se afagasse com a maior impudência dentro de uma igreja, quanto mais numa praça pública.

Os gays, indefesos como todo o restante da população num país que tem cinqüenta mil homicídios por ano, continuariam tão sujeitos quanto agora à truculência de assassinos e estupradores – estes últimos necessariamente homossexuais eles próprios, no caso –, mas estariam protegidíssimos contra o apelo suave do Evangelho que os convoca a mudar de vida.

Alegar que essa lei se destina à proteção da comunidade gay é cinismo; ela se destina, isto sim, à destruição da comunidade cristã, sem nada oferecer aos homossexuais em troca, apenas dando à parcela politizada e anti-religiosa deles a satisfação sadística de alegrar-se com a desgraça alheia. Desgraça tanto mais satisfatória, a seus olhos, quanto mais injusta, arbitrária e sem motivo.

Se algum dia houve no Brasil uma proposta de lei desprovida de qualquer razão de ser além do puro ódio, é essa.

Mas não é somente sobre os cristãos que ela despeja esse ódio. É sobre toda a concepção do Estado democrático, do governo do povo pelo povo. Não há um entre os proponentes dessa lei que o ignore, nem um só que não se regozije com isso. No Estado democrático, o governo é a expressão da vontade popular e, portanto, da cultura reinante. Ele pode elevá-la e aperfeiçoá-la, mas o próprio fundamento da sua existência consiste em respeitá-la e protegê-la. Na nova concepção imposta pela elite globalista iluminada, o Estado é o “agente de transformação social”, a vanguarda da “revolução cultural” incumbida de fazer o povo gostar do que não gosta, aprovar o que não aprova, cultuar o que despreza e desprezar o que cultuava. É o órgão do estupro psicológico permanente, empenhado em chocar, escandalizar e contrariar a alma popular até que esta se renda, vencida pelo cansaço, e passe a aceitar como decreto da Providência, como fatalidade natural inevitável, o que quer que venha da burocracia dominante.

Decapitados e decapitadores

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 22 de julho de 2008

Num seriado da TV estatal britânica BBC, uma organização cristã “de extrema-direita”, com nome sutilmente racista (White Wings, “Asas Brancas”), decapita um inocente muçulmano “politicamente moderado”, sob o pretexto – oh, quão paranóico! – de que a tradição cristã do Reino Unido está sob ameaça.

Não sei precisamente a quantidade de cabeças cristãs que têm rolado no mundo islâmico nos últimos anos – várias dúzias, até onde acompanhei o noticiário –, mas sei o número exato de muçulmanos decapitados pelos cristãos, fundamentalistas ou não, no Ocidente ou no Oriente: zero.

Quando uma TV estatal decide chamar os decapitados de decapitadores, atribuir a eles o fanatismo sangrento daqueles que os matam e ainda acusá-los de paranóicos quando se sentem ameaçados, uma coisa é clara: o proprietário dessa TV está em guerra contra a religião dessas pessoas e, na ânsia de extingui-la, não se vexa de recorrer à calúnia deliberada e cínica. Quando esse próprietário é o governo de uma das nações mais poderosas do mundo, o risco que a comunidade visada está exposto não é nada pequeno. É pelo menos tão grande quanto a imaginária “White Wings” diz que é.

Semanas antes, quase ao mesmo tempo que o governo britânico legalizava a poligamia e autoridades judiciais proclamavam que a implantação da lei islâmica no Reino Unido era apenas uma questão de tempo, a BBC havia proibido seus redatores de usar o termo “ditador” para referir-se ao falecido Saddam Hussein, aquela gentil criatura que consolidou seu poder presidencial matando os deputados de oposição e depois espalhou cemitérios clandestinos por todo o Iraque, preenchendo as valas comuns com centenas de milhares de rebeldes e indesejáveis em geral.

Simultaneamente, uma pesquisa do American Textbook Council (v. www.worldnetdaily.com/index.php?pageId=63872) mostrou que os livros de História distribuídos na rede de escolas públicas dos EUA são francamente pró-islâmicos, enquanto toda expressão pró-cristã é ali cada vez mais desestimulada e reprimida sob todas as formas, incluindo expulsão, prisão e estágios obrigatórios de “reeducação da sensitividade”.

Também quase ao mesmo tempo, a Suprema Corte dos EUA concede aos terroristas islâmicos presos em território estrangeiros os mesmos direitos dos cidadãos americanos, enquanto a grande mídia e os megabilionários globalistas conjugam esforços para eleger presidente dos EUA um muçulmano (relativamente) enrustido.

Mas, é claro, só um fanático militante da “White Wings” veria em tudo isso uma convergência entre os três grandes projetos de dominação mundial – o metacapitalista, o comunista e o islâmico – num esforço comum de realizar a velha meta do filósofo marxista Georg Lukács: destruir a civilização judaico-cristã.

“Judaico-cristã” não é só um modo de dizer. A guerra não é só contra os cristãos: a BBC tanto demonizou Israel que o governo de Tel-Aviv decidiu vetar a entrada de representantes dessa emissora nas entrevistas coletivas oficiais. Claro: de que adianta contar tudo a repórteres que depois escrevem o contrário? De que adianta mostrar-lhes dezenas de bombas lançadas diariamente contra Israel se depois eles vão pintar toda e qualquer reação israelense, mesmo desproporcionalmente modesta, como se fosse uma iniciativa isolada, sem motivo, inspirada pela pura brutalidade?

Morrendo pela boca

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 16 de julho de 2008

De uns dias para cá, Barack Hussein Obama caiu significativamente nas pesquisas de intenção de voto, sem que seu adversário fizesse nada para isso acontecer ou dissesse mesmo uma palavra sequer contra ele. McCain até defendeu a honra do candidato democrata, alegadamente ofendida por uma charge de capa da revista The New Yorker, em que Obama aparece vestido de árabe e a sra. Obama de terrorista. The New Yorker não é conservadora, é esquerda anestésica. Mas mesmo entre os esquerdistas mais enfezados a reputação de Obama já não é tão linda quanto umas semanas atrás. Milhões de adeptos de Hillary Clinton estão pedindo suas contribuições de campanha de volta, e Robert Redford, de quem se esperaria tudo menos isto, saiu dizendo que Obama é inexperiente demais para a presidência.

O problema com Obama é muito simples. Ele força demais no bom-mocismo, a imagem que ele vende é diferente demais da realidade: no empenho desesperado de encobrir a diferença, ele se atrapalha todo e acaba não dizendo coisa-com-coisa.

Numa pesquisa da America Online, que perguntava se Obama é “liberal” (esquerdista), “conservative” ou “flip-flop” (muda de lado a toda hora), 82 por cento dos entrevistados votaram no “flip-flop”. Eu estava online e votei também, mesmo sabendo que as alternâncias dele são só da boca para fora, que por dentro ele continua tão pró-comunista, pró-terrorista e desvairadamente antiamericano quanto Osama bin Laden poderia exigir da mais fiel das suas esposas. Pois a encrenca é exatamente essa: Obama não é autêntico nem na indefinição. John Kerry também mudava de posição toda semana, mas fazia isso porque não tinha mesmo convicção nenhuma, queria só chegar à presidência. Políticos sem convicções não são tão maus quanto parecem. Alguns alcançaram enorme sucesso, fizeram até grandes coisas. Abraham Lincoln só se voltou contra a escravidão quando lhe pareceu conveniente. Franklin Roosevelt não acreditava numa só palavra do que dizia, mas, quando decidia, estava decidido. O nosso Getúlio Vargas morreu sem que ninguém soubesse qual era afinal a ideologia dele; seus discursos eram obras-primas da desconversa universal – mas quem vai negar que ele criou as bases da indústria brasileira? A ausência de convicções, o flip-flop mais desvairado, pode ocultar um pragmatismo saudável. Mas Obama só se faz de pragmático para esconder os compromissos explosivos que o tornam um óbvio inimigo do seu país. E os escondeu tão bem que eles acabaram aparecendo na capa da New Yorker.

Enquanto isso, o velho McCain se faz de inofensivo, só esperando que o adversário morra pela boca. É tática de pobre, mas às vezes funciona. Obama tem 315 milhões de dólares a mais que ele para a campanha. Se torrar tudo em camuflagens, terá obtido o mesmo resultado eleitoral que alcançaria se comprasse 315 milhões de dólares em roupas árabes.

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