Carlos Alberto Reis Lima – médico

dr.lima1@terra.com.br

13 de novembro de 2001

Não interessa à sociedade o destino que o PT dará a Diógenes de Oliveira. Senão por curiosidade, o que acontecerá ao prócer petista é periférico ao interesse maior da sociedade. Se não o fosse, seria forçoso admitir que problemas de foro interno de um partido vibrariam como se o partido, o Estado, o governo, e a administração pública estadual fossem uma única e exclusiva coisa, o que o PT não gosta de admitir, mas que a sociedade começou a perceber neste lamentável episódio de tráfico de influências. Outro não é o motivo da cólera sobre o relator da CPI e a própria CPI quando eles identificaram nas ligações perigosas de Diógenes o dedo do partido-governo, do governo-Estado, da administração pública-partido, e do partido-Estado, uma única e sólida esfera, palavra tão ao gosto dos intelectuais softs do PT. Não têm eles do que se queixar, entretanto; tudo fizeram e fazem para confundir nesta nebulosa esfera aquilo que a verdadeira democracia busca incansavelmente separar, para que bandeiras partidárias não se sobreponham à transitoriedade do governo e à perenidade da administração pública, para não falar no Estado, o ente maior, neutro por definição e imortal por soberana necessidade.

Por tal, não se entende a manifestação apriorística do Secretário da Justiça e da Segurança da inatacabilidade de pessoas e entidades. Olívio não é Deus; o PT é um partido, singular, sui-generis, por certo, mas que nem por isso pode se autoproclamar inatacável como querem seus defensores. Ou bem confessa que esta singularidade o faz precisamente suspeito de se sobrepor às leis que a todos obriga, ou admite de vez o caráter excepcional de um partido que tem na sua vanguarda, pelo menos, uma facção socialista-revolucionária não desprezível, como bem o indica o currículo dos seus principais astros, como um vórtice irresistível que a tudo e a todos arrasta para aventuras perigosas.

De tudo se conclui que a CPI revelou uma ponta obscura até ao momento aos olhos do eleitorado gaúcho e brasileiro; ela tocou um ponto essencial, qual seja, o PT é diferente, e esta diferença não provem de sua honestidade, nem de sua “ética”, mas sim de sua postura revolucionária que o coloca em condições privilegiadas no enfrentamento dos outros partidos. É como se em um duelo um dos contendores usasse armas que são sonegadas ao outro. Não há debate democrático que resista a esta falta de fair-play, nem tampouco há democracia onde um dos contendores não aceita as regras a todos imposta. Diante desta contradição brutal restou ao Partido dos Trabalhadores o insano labor de desqualificar a CPI, não por seus exageros, mas por ela ter revelado ao mundo que há alguns partidos que são mais iguais do que outros. À sociedade alertada por uma imprensa recém desperta não agradará a reedição estalinista de outro Processo de Moscou.

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