A fonte da eterna ignorância

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 27 de julho de 2009

Há anos venho tentando chamar a atenção das nossas elites empresariais, políticas e militares para o fenômeno da degradação cultural brasileira, mas não creio que até agora tenha conseguido fazê-las enxergar a real dimensão do problema – até porque as elites mesmas são as primeiras vítimas dele e não há nada mais difícil do que fazer alguém tomar consciência da sua inconsciência progressiva. É como tentar parar uma queda em pleno ar.

Desde logo, a palavra “cultura” já evoca, na mente desse público, a idéia errada. “Cultura”, no Brasil, significa antes de tudo “artes e espetáculos” – e as artes e espetáculos, por sua vez, se resumem a três funções: dar um bocado de dinheiro aos que as produzem, divertir o povão e servir de caixa de ressonância para a propaganda política.

Que a cultura devesse também tornar as pessoas mais inteligentes, mais sérias, mais adultas, mais responsáveis por suas ações e palavras, é uma expectativa que já desapareceu da consciência nacional faz muito tempo. Se o artista cumpre as três funções acima, nada mais lhe é exigido nem mesmo para lhe garantir o rótulo de gênio. Foi preciso, no festival de Paraty, uma escritora irlandesa (Edna O’Brien) vir avisar aos brasileiros que Chico Buarque de Holanda não faz parte da literatura. Por si mesmos, eles jamais teriam percebido isso. Nos cursos universitários de letras, produzem-se milhares de teses sobre Caetano Veloso e o próprio Chico, enquanto escritores de primeira ordem e já consagrados pelo tempo, como Rosário Fusco, Osman Lins ou José Geraldo Vieira, são ignorados já não digo só pelos estudantes, mas pelos professores. Até a Academia Brasileira, nominalmente incumbida de manter alto o padrão das letras nacionais, de há muito já não sabe distinguir entre o que é um escritor e o que não é. A hipótese de que o sejam os srs. Luís Fernando Veríssimo, Paulo Coelho e Marco Maciel jamais passaria pela cabeça de alguém habilitado, digamos, a compreender razoavelmente um poema de Eliot ou a perceber a diferença de fôlego entre Claudel e Valéry, isto é, de alguém que tenha ao menos uma idéia aproximada do que é literatura.

A alta cultura simplesmente desapareceu do Brasil – desapareceu tão completamente que já ninguém dá pela sua falta.

Como posso fazer ver a gravidade disso a pessoas que, não pertencendo elas próprias ao círculo das letras e das artes, recebem dele, prontos, os critérios de julgamento em matéria de cultura e, ao segui-los, acreditam estar em dia com os mais elevados padrões internacionais? Como posso mostrar ao político, ao empresário, ao oficial das Forças Armadas, que cada um deles está sendo ludibriado por usurpadores subintelectuais e encaixilhado numa moldura mental incapacitante?

Um exemplo talvez ajude. Não conheço um só membro das nossas elites que não tenha opiniões sobre a política norte-americana. A base dessas opiniões é o que lêem nos jornais e vêem na TV. Acontece que o instrumento básico do debate político nos EUA é o livro, não o artigo de jornal, o comentário televisivo ou a entrevista de rádio. Não há aqui uma só idéia ou proposta política que, antes de chegar aos meios de comunicação de massas, não tenha se formalizado em livro, demarcando as fronteiras do debate que, nessas condições, é sempre pertinente e claro. Também não há um só desses livros que, em prazo breve, não seja respondido por outros livros, condensando e ao mesmo tempo aprofundando a discussão em vez de limitá-la às reações superficiais do primeiro momento.

Ora, esses livros praticamente nunca são traduzidos ou lidos no Brasil. Se alguém os lê, deve mantê-los em segredo, pois nunca os vejo mencionados na nossa mídia, seja pelos comentaristas usuais ou pelos acadêmicos iluminados que os chefes de redação tomam como seus gurus. Resultado: a elite que confia nos canais jornalísticos como sua fonte básica de informação acaba sendo sistematicamente enganada. Não só forma opiniões erradas sobre o quadro internacional, mas, com base nelas, diagnostica erradamente a situação local e toma decisões estratégicas desastrosas, que só a enfraquecem e a tornam dia a dia mais sujeita aos caprichos da quadrilha governante.

Só para tornar o exemplo ainda mais nítido: quem quer que tenha lido, além das autobiografias de Barack Obama, as investigações sobre sua vida pregressa feitas por Jerome Corsi, Brad O’Leary e Webster Griffin Tarpley (anti-obamistas por motivos heterogêneos e incompatíveis), sabia de antemão que, se eleito, ele usaria o prestígio da própria nação americana para dar respaldo ao anti-americanismo radical dentro e fora dos EUA; que, no Oriente Médio, isso significaria sonegar apoio a Israel e aceitar pacificamente o Irã como potência nuclear; na América Latina, elevar Hugo Chávez, as Farc e o Foro de São Paulo ao estatuto de árbitros supremos da política continental. Como no Brasil ninguém leu nada disso, o que se impregnou na mente do público foi a visão de Obama como um progressista moderado, algo como um novo John F. Kennedy ou Martin Luther King. Nos EUA, com a ajuda da grande mídia cúmplice, Obama enganou metade do eleitorado. No Brasil, enganou a opinião pública inteira. Agora, só resta aos ludibriados atenuar retroativamente o vexame do engano mediante um novo engano, persuadindo-se de que, se até o governo americano apóia Hugo Chávez, é porque ele não é tão perigoso quanto parecia…

O deserto dos gringos

Olavo de Carvalho

Digesto Econômico, julho/agosto de 2009

Se para cada página que se escreveu alertando contra a internacionalização da Amazônia fosse retirada daquele território uma área de vinte metros quadrados, a Amazônia já seria internacional faz muito tempo. O terror da cobiça estrangeira incorporou-se ao imaginário nacional pelo menos desde a presidência Arthur Bernardes (1922-1926), alimentado menos pela iminência de perigos reais do que pela má-consciência de possuirmos um território bem maior que a nossa capacidade de defendê-lo, só preservado como unidade, precisamente, pelo desinteresse blasé dos presumidos invasores que, como os tártaros de Italo Calvino, não se fazem notar senão por sua longa, humilhante, insuportável demora em atacar-nos.

A tagarelice que ainda hoje e com intensidade crescente fomenta o perpétuo e jamais recompensado estado de alarma contrasta, da maneira mais patética, com a incapacidade nacional de fazer face às duas únicas ações efetivas empreendidas até agora para violar a nossa soberania naquele pedaço do planeta: a transferência de imensas faixas de terra para “nações indígenas” biônicas e a intensa presença das Farc na região amazônica. Tanto se gritou contra ameaças imaginárias, que nada se pôde fazer contra as agressões efetivas, principalmente porque não vieram da direção tradicionalmente esperada – o tão execrado e temido “imperialismo ianque” –, mas do flanco simetricamente oposto: a esquerda internacional. Que esta era de fato a única fonte possível de arranhões e fraturas na nossa integridade territorial, eis uma obviedade que eu já vinha advertindo faz mais de uma década, sem merecer atenção, é claro, de ouvidos programados para ouvir tão-somente o contrário.

O caso Raposa Serra do Sol ilustra, da maneira mais deprimente, a facilidade com que os organismos internacionais, diretamente ou através da imensurável rede de partidos de esquerda, ONGs militantes e órgãos de mídia cúmplices, nos impõem as mudanças que bem entendam, sem suscitar senão reações débeis e impotentes. Com a mesma desenvoltura arrogante com que nos proíbem de fumar, de ler notícias tidas como indesejáveis, de ter armas para defesa da nossa vida e propriedade, de usar certas palavras em público ou de julgar as coisas segundo a nossa própria religião, elas removem milhares de brasileiros de suas terras para entregá-las a ongueiros travestidos de índios, e todo o clamor nacional contra isso, ao esbarrar na vontade implacável de nossos mandantes estrangeiros, vai definhando, definhando, até esvair-se num lamento inaudível.

Quanto às Farc, senhoras absolutas do narcotráfico na América Latina inteira graças ao Plano Colômbia do Sr. Bill Clinton, que as deixou intactas enquanto removia do caminho os seus concorrentes, suas atividades no Brasil, sob o patrocínio político e moral do Foro de São Paulo, estendem-se deste a floresta amazônica, onde entram e saem como se fosse sua própria casa, trazendo drogas, comprando armas, matando uns brasileiros, recrutando outros, até as escolas onde vendem cocaína impunemente às nossas crianças; desde os altos escalões da República onde seus parceiros brilham nos ministérios e no comando do PT, até as ruas das grandes capitais onde seus agentes terceirizados do Comando Vermelho e do PCC mantêm a população sob o regime do terror, contribuindo com uma quota significativa para o nosso recorde mundial de 50 mil homicídios por ano.

É chocante comparar a passividade nacional ante esses duas desgraças efetivas e presentes com o reiterado empenho alarmista voltado contra a fantasiosa e a rigor impossível “invasão ianque”, empenho movido, sobretudo, pelos próprios membros, amigos, simpatizantes e idiotas úteis do Foro de São Paulo. Que os invasores reais mantenham a nação hipnotizada e sonsa, desviando suas atenções para o temor de invasões hipotéticas, é mais que compreensível: a mentira e a camuflagem são da essência mesma da estratégia. Mas que elites políticas, intelectuais, econômicas e militares sem nenhum interesse direto nesse engodo se deixem iludir por ele, é sinal de um estado de alienação que o mero comodismo não explica.

Este fenômeno não pode ser compreendido sem um breve exame das peculiaridades do nacionalismo brasileiro.

Por toda parte, a idéia nacionalista, desde que existe, está associada ao sentido histórico, ao culto de valores e símbolos consolidados por uma longa experiência comum e transmitidos de geração em geração. No Brasil não há nada disso. O desprezo pelo passado, o total desconhecimento das conquistas históricas e das grandes criações culturais que poderiam dar fundamento a um nacionalismo genuíno já se tornou um dado constante da mentalidade pública ao ponto de que a simples menção a esse patrimônio é recebida, nas escolas ou em qualquer conversa doméstica, com estranheza e chacotas. O elemento mais essencial de uma cultura nacionalista – o amor à língua – falta por completo nos nossos hábitos e afeições. Entre os intelectuais, o desprezo aos fundadores do país e aos heróis que consolidaram a nacionalidade é quase um dever moral, exceto quando o personagem, acidentalmente, pode ser aproveitado como símbolo do ressentimento esquerdista, como é o caso do marinheiro João Cândido ou da figura vaga e nebulosa de Zumbi dos Palmares.

No tempo dos militares, o primeiro e único filme brasileiro que glorificava em grande estilo os heróis da Independência foi recebido pela elite intelectual com nada menos que nojo, ao passo que o livro de Júlio José Chiavenato, “Genocídio Americano”, que acusava o país de uma infinidade de crimes hediondos imaginários, recebia aplausos e louvores.

Nada ilustra melhor o caráter paradoxal e autodestrutivo do nosso nacionalismo do que o Movimento Modernista de 1922, cuja máxima expressão literária, o “Macunaíma” de Mário de Andrade, retrata o caráter nacional com as feições mais abjetas e desprezíveis, enquanto a pretensa afirmação da “língua brasileira”, rompendo os laços culturais com Portugal, e privando-nos assim do influxo benéfico das poderosas conquistas culturais portuguesas do século XX, tornou-nos escravos da moda francesa e institucionalizou um linguajar de um artificialismo sufocante, miseravelmente datado.

Nessas condições, o mais lógico seria dizer que no Brasil não há nacionalismo nenhum, que a tendência nacional é para uma cultura de ódio à Pátria. Essa cultura, de fato, existe, mas, como camuflagem e compensação psicológica, colocou-se em cima dela um tipo peculiar de falso nacionalismo, voltado não para os valores espirituais da história, mas para a geografia e o valor material do território. Ao desprezo por tudo o que de mais elevado os brasileiros criaram ao longo dos séculos faz contraponto o culto idolátrico das terras, do minério, do potencial hidrográfico e, mais recentemente, da “biodiversidade” – tudo isso acompanhado, é claro, do temor de que os estrangeiros nos roubem essas maravilhas.

Expressão de uma mentalidade provinciana, deformada pelo materialismo mais vil, esse tipo de nacionalismo jamais poderia fomentar, nas almas que ele afeta, uma reflexão frutífera e realista sobre os problemas nacionais. Muito menos poderia alimentar, nelas, aquele tipo de vida intelectual superior que é necessário para que a classe dos formadores de opinião chegue a ter uma compreensão séria da posição do país na história política e espiritual do mundo.

O nacionalismo brasileiro é apenas uma forma quase demencial de alienação da realidade.

Esse gênero de deformidade mental aparece sobretudo quando a atividade das inteligências não é movida por um desejo sincero de conhecer a realidade, muito menos de elevar-se espiritualmente, mas passa a refletir motivações menores, oportunismos de momento. A tendência nacional para uma forma degradada e impotente de nacionalismo, que já existia pelo menos desde a proclamação da República, veio a ser fortalecida por quatro oportunismos sucessivos:

1. Quando Stalin, na década de 30, ordenou que os Partidos Comunistas explorassem as tensões entre nações ricas e pobres, bem como entre diferentes grupos étnicos, dando-lhes o teor de “luta de classes”, isto imediatamente gerou um falso nacionalismo de esquerda que se permitia depreciar todas as tradições nacionais, apenas odiando o “imperialismo americano” mais do que odiava a elas. A retórica gerada por esse tipo de nacionalismo fazia o possível para aviltar os heróis e símbolos nacionais, a religião majoritária que unificara o país, as Forças Armadas, etc., exaltando, ao mesmo tempo, o “povo anônimo” que, significativamente, nunca aparecia simbolizado por honestos trabalhadores, mas por bandidos e prostitutas.

2. A Revolução de 30 e a ditadura Vargas buscaram implantar, em oposição a isso, uma imagem nacionalista rósea, de agência de turismo, dando aos comunistas ainda mais motivos de desprezo e chacota.

3. Novo empenho nesse sentido foi feito pelos governos militares entre 1964 e 1978, sobretudo na base da publicidade maciça sustentada por slogans de uma estupidez sem par. Um governo que fora elevado ao poder por um movimento de reação anticomunista absteve-se, vergonhosamente, de toda luta cultural contra o comunismo, buscando, ao contrário, desviar as atenções para um patriotismo postiço incumbido de superar por mágica as tensões ideológicas.

4. Após a redemocratização, muitos militares, sentindo sua classe acossada e humilhada pela mídia, buscaram alívio na exploração de um discurso nacionalista que os aproximasse da esquerda. Nada podia aviltar mais as Forças Armadas do que essa tentativa de seduzir seus inimigos que, por seu lado, nada cediam, mas continuavam diariamente, na mídia e nas instituições de cultura, a mover guerra aberta contra a honra dos militares, recorrendo até ao expediente de acusá-los de crimes imaginários, impossíveis. Na revista de ESG sucediam-se artigos “anti-imperialistas” – muitos deles na base do alarmismo amazônico – que não se distinguiam em nada daquilo que se podia ler em publicações comunistas. Num círculo de oficiais nacionalistas, cheguei a ouvir o apelo de um conhecido líder esquerdista a que a antiga esquerda armada e os militares esquecessem suas antigas desavenças e se unissem num esforço comum contra “o imperialismo” e o “neo-liberalismo”. Os aplausos que se seguiram foram a prova de que a honra militar era coisa do passado. Aplausos idênticos vi e ouvi de quase setecentos oficiais militares, no Clube da Aeronáutica, quando da apresentação do então candidato presidencial Luís Inácio Lula da Silva. O ressentimento militar pelo corte de verbas durante o governo Fernando Henrique tinha levado aqueles homens a cortejar o apoio daqueles que diariamente cuspiam na imagem das Forças Armadas e não davam um minuto de descanso aos acusados de “tortura”.

Como é possível que um nacionalismo inspirado em oportunismos tão torpes e mesquinhos gere uma visão correta da realidade, um diagnóstico adequado da situação e a defesa eficaz dos interesses nacionais no quadro do mundo?

Um nacionalismo genuíno ainda está para surgir no Brasil. Como ele é o pressuposto de uma verdadeira compreensão do problema amazônico, esta compreensão ainda vai demorar um pouco. No momento, até mesmo oficiais militares, excitados ante a perspectiva de um caso de amor com seus inimigos de ontem, estão mais preocupados com as bases americanas na Colômbia do que com os quadrilheiros das Farc que já dominam grande parte do nosso território e, através do Foro de São Paulo, governam o Brasil. Nunca houve um só caso de ocupação permanente de um país estrangeiro por tropas americanas. Mas há casos e mais casos de dissolução de soberanias nacionais por penetração insistente de tropas guerrilheiras, mesmo não tão equipadas, ricas e politicamente bem sustentadas como as Farc. A constância com que os nossos pretensos patriotas cedem tudo para o lado mais ameaçador e se intoxicam de alarmas contra perigos inexistentes é a prova mais evidente de uma alienação que torna o país cada vez mais fraco, mais indefeso contra os perigos reais.

A OEA, órgão do Foro de São Paulo

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 20 de julho de 2009

A teoria de que o think tank democrata “Diálogo Interamericano” controla o Foro de São Paulo foi lançada pelo meu amigo José Carlos Graça Wagner no começo dos anos 90, uma época em que ninguém no Brasil – muito menos ele próprio – tinha uma visão clara do esquema globalista em ação nos EUA. O dr. Wagner foi o pioneiro nas investigações sobre o Foro de São Paulo, mas tão longe da realidade ele estava quanto a esse ponto em particular, que interpretava as ações do Diálogo em termos do interesse nacional dos EUA, acreditando que o apoio dado por aquela entidade à esquerda latino-americana visava a conter o fluxo da imigração ilegal que ameaçava a segurança interna daquele país. Transcorrida uma década e meia de apoio constante da esquerda democrata à abertura das fronteiras para os ilegais, essa hipótese deve ser considerada apenas um erro já longamente superado. Desenterrá-la é deixar-se hipnotizar por um fantasma.

Que houve colaboração entre o Diálogo e o Foro, não se pode negar. Pelo menos um encontro discreto entre representantes das duas entidades aconteceu em maio de 1993. O fato foi completamente ocultado pela grande mídia norte-americana e só saiu na edição cubana do Granma no dia 5 daquele mês. Como no ano passado eu recebesse dos arquivos do Dr. Graça Wagner um recorte parcial da matéria, pedi que um assistente meu buscasse o texto integral na Biblioteca do Congresso. A coleção completa do Granma estava lá: só faltava a edição de 5 de maio de 1993. A mesma lacuna observou-se em várias outras bibliotecas, alimentadas por aquele organismo central. Coincidência ou não, a então diretora da seção latino-americana da Biblioteca do Congresso era a mesma pessoa que havia organizado o encontro entre o Diálogo e o Foro quinze anos antes.

Por mais comprometedor que seja esse episódio, não se deve exagerar a sua importância, porque depois dele aconteceram tantos outros contatos diretos entre agentes globalistas de maior porte e representantes do Foro de São Paulo, e até mesmo das Farc, que as conversações de 1993 não podem ser vistas, hoje, senão como o vago começo de um flerte que já se estabilizou como casamento faz muito tempo. Mais ainda, esses contatos envolveram membros do CFR, Council on Foreign Relations, entidade todo-poderosa da qual o Diálogo Interamericano não passa de uma subestação retransmissora. Expliquei isso em artigo aqui publicado em 5 de junho de 2006.

Longe de representar uma expressão do poderio nacional americano (embora se utilize dele para seus próprios fins), o esquema globalista que protege a esquerda radical e o narcotráfico na América Latina tem o propósito declarado de quebrar a hegemonia dos EUA, facilitando a transformação da ONU em governo mundial. A eleição de Barack Obama, forçada por meio do controle absoluto dos meios de comunicação, que privou o eleitorado de informações essenciais sobre um candidato suspeitíssimo no qual jamais votaria se soubesse quem ele era, foi uma etapa importante do processo. Todas as medidas tomadas pelo presidente desde sua posse são perfeitamente coerentes com os objetivos de seus mentores: debilitar militarmente os EUA, destruir a economia nacional por meio do gasto público desenfreado e da inflação, desmantelar a resistência nacionalista (especialmente a direita religiosa), isolar Israel, favorecer a ascensão islâmica e proteger por todos os meios, inclusive os mais obviamente imorais, a esquerda radical na América Latina. Nunca um presidente norte-americano, com a modesta exceção de Jimmy Carter, foi tão coerentemente inimigo do seu país.

Sua mais recente iniciativa nesse sentido não poderia ser mais clara: condenando Honduras numa seção em que a parte acusada não teve o menor direito de defesa, a OEA consolidou-se como escritório de advocacia a serviço do castrochavismo, do narcotráfico e de tudo o que pode existir de mais anti-americano ao Sul do Rio Grande.

Mais realista do que os tagarelas iluminados da nossa mídia, ainda e sempre empenhados em camuflar as ações do Foro de São Paulo sob toneladas de desconversas anestésicas, a imprensa de Honduras foi direto ao ponto: informou que, pelos bons préstimos de Barack Obama, o Foro de São Paulo assumiu o controle da OEA.