por Alexandre Garcia


29 de janeiro de 2002

Há oito anos, quando pedia voto para ser presidente da República, FHC mostrava na mão espalmada suas cinco prioridades. Um dos dedos era o da segurança pública. Que só fez piorar. Tucanos e petistas estão colhendo os frutos de sua política de combate ao crime. Em vez de matarem a serpente, fertilizaram-na e ela se multiplicou. Tucanos e petistas, acostumados a ver a polícia como uma ameaça, nos seus tempos de comícios de esquerda, parece que se vingaram. Acostumados a ver militantes perseguidos, trataram de dar direitos os perseguidos – só que hoje eles são militantes do Comando Vermelho, do Comando da Capital, do tráfico de drogas, dos seqüestros, do contrabando de armas, do controle das prisões.

Os mais à esquerda viam a segurança pública como proteção das elites ameaçadas. Na luta de classe marxista, viam nas ruas apenas a revolução dos pobres contra os ricos. E assim foi durante mais de uma década. Nas ruas, os pobres são os mais sacrificados, porque os mais indefesos. São os mais oprimidos, porque não têm dinheiro para vigilantes, grades, alarmas, segurança eletrônica. Durante anos, os intelectuais apontaram como causa da bandidagem a pobreza, cometendo uma calúnia cruel contra os necessitados, porque a tese implica considerá-los desonestos e sem-caráter. Pode ser até que o desespero leve ao furto, mas não ao seqüestro covarde e cruel. A bandidagem é uma questão de má-formação, não importa que se seja pobre, classe média ou banqueiro.

Durante anos, ai de quem combatesse os criminosos! O Capitão PM que salvou a menina Tábata matando seus dois seqüestradores, em vez de receber medalha no Palácio dos Bandeirantes, foi considerado assassino pela mídia – e absolvido pelo povo que o elegeu Deputado Estadual. O apresentador que investia contra bandidos sempre foi considerado pelos intelectuais da mídia um pregador da violência. Mas o povo o elegeu deputado federal. Os intelectuais teimaram, durante anos, em ficar ao lado dos bandidos e contra a polícia, ignorando as vítimas. Agora que José Genuíno e Aloísio Mercadante pedem prisão perpétua, ROTA e Forças Armadas no combate ao crime, uma boa parte do PT ainda se escandaliza.

Durante anos, as pessoas organizaram passeatas por abstrações: pela paz e contra a violência. Se a passeata de domingo, em São Paulo, tivesse sido feita na Palestina, estaria no lugar certo. Porque o bandido não imagina que um movimento pela paz e contra a violência seja contra ele. E não é. Para combater a violência, se proíbem lutas de boxe, algumas partidas de futebol e até desenhos animados. Mas ninguém consegue prender a violência. Prendem-se bandidos. É preciso mobilizar o povo, sim, contra os criminosos. Esses são concretos e estão nos matando. E dar um puxão-de-orelhas nos legisladores que foram bonzinhos com os criminosos e maus com a polícia. Se a polícia está mal-paga, desestruturada, mal formada, mal armada, dispersa, desorganizada, desarticulada, é porque uma filosofia, durante anos, a desmontou. E se os criminosos de todas as idades estão cada vez mais ousados e confiantes na impunidade, é porque fizeram leis para dar-lhes direitos e penas de cesta básica.

Agora que estão matando prefeitos, juízes, promotores, eles começam a perceber que durante anos a vítima foi o povo e, principalmente, o povo mais pobre. Enquanto isso, outros davam o mau exemplo de enriquecer pela corrupção e pela sonegação. Na semana passada, um juiz carioca pôs no xadrez uma quadrilha de banqueiros. O advogado deles, considerando a decisão como “obcena, violenta e ilegal”, pediu habeas corpus ao Superior Tribunal de Justiça. O habeas foi negado. Mas na segunda-feira, o Presidente do Supremo deu o habeas. Difícil ainda ter esperança.

 

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