Por José Nivaldo Cordeiro

30 de julho de 2002

O Brasil quebrou. Na semana passada isso já estava claro. A expressiva desvalorização do real ontem apenas homologou no mercado o que os analisas já sabiam. Quebrar significa que ele não tem os meios para pagar o que deve aos credores internacionais. O que fazer?

O drama maior é que a quebra deu-se antes de concluída a sucessão presidencial. Na prática, os credores internacionais e as instituições multilaterais não têm interlocutor válido para discutir os caminhos a seguir. O governo FHC acabou, perdeu a autoridade.

Não resta ao país outra coisa que não gerar grandes superávits na balança comercial e, para tanto, terá que ter também grandes superávits primários, capazes de conter a expansão da dívida pública e a demanda interna. A redução do Estado, que deveria ser algo a ser feito de forma racional e com tempo, agora terá que ser feita a fórceps, em curto o prazo. Nada como uma crise para apressar o parto.

Isso significa que a recessão poderá ser muito grande. Não me espantaria uma queda no PIB relevante ainda este ano, por conta do tumulto dos últimos meses do ano. Para o ano que vem a queda deverá ser fortíssima.

A fala de Paul O´Neill, por mais deselegante que possa parecer e mesmo ofensiva, não é mais deselegante e ofensiva do que tem sido a ação da diplomacia brasileira para com o governo Bush e com as conseqüências dos atentados de 11 de setembro. FHC tem discursado em todos os fóruns mundiais contra os interesses dos EUA e contra a orientação política daquele governo. Quem não lembra do discurso na Assembléia francesa? Deveria agora pedir os dólares de que precisa à França.

O governo Bush não tem porque ter solidariedade a um governo francamente contrário aos seus interesses. O nosso povo está pagando pela miopia e liderança errada de FHC.

O fato é que o posicionamento da diplomacia brasileira tem sido um desastre para os interesses do país. Talvez a postura do governo Bush fosse outra se o terceiro-mundismo fernandista não tivesse sido tão radical. FHC fez da nossa política externa uma fábrica de panfletos de centro acadêmico. Cometeu erros primários. Nossos interesses estão indissoluvelmente ligados aos EUA.

O desastre é que faltam ainda três meses para o desenlace da sucessão. Talvez o Brasil não suporte tão longo tempo sem comando político legítimo sem passar por uma grande convulsão.

São também de grandes perigos e grandes sofrimentos.

O autor é economista e mestre em Administração de Empresas pela FGV – SP

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