Olavo de Carvalho

21 de novembro de 2009

Prezados amigos,

É com grande pesar que comunicamos o falecimento no dia 17 de novembro de Jorge Luiz Nicolodi, um colega do Seminário de Filosofia. Abaixo, o relato de sua morte enviado aos alunos do Seminário de Filosofia pelo seu amigo Ivan Chudzik.

Nossos sentimentos.

Olavo de Carvalho e equipe do Seminário de Filosofia.


Há três semanas, um engenheiro agrônomo de Guarapuava, Jorge Luiz Nicolodi, esteve em Curitiba, quando assistiu à Missa do Rito Gregoriano na igreja da Ordem. Por causa da sua área profissional, Jorge continuamente estava em contato com o problema do MST. E, não obstante, sendo ele diretor da UCP (Faculdades do Centro do Paraná), também se deparava com o esquerdismo reinante no ambiente universitário. Isto o intrigou de tal maneira que ele começou uma jornada intelectual em busca de respostas. Afinal, por que ainda há quem lute pelo marxismo quando os países onde ele foi aplicado estavam arrasados?

A sua busca dedicada e determinada pela verdade o fez encontrar Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo, dentre outras personalidades. Desde então ele estudou com afinco Filosofia, o que resultou no desabrochar do seu Catolicismo. Por consequência, ele passou a viver conscientemente a doutrina da Igreja, sabendo de todos os problemas que assolam a Religião Católica hoje. Jorge estava ciente das questões em torno do Concílio Vaticano II, do Novo Ordinário da Missa, do 3º Segredo. A sua redescoberta da Religião–sendo ele católico desde sempre–se deu quando Olavo de Carvalho, em seu Curso on line de Filosofia, explicou a relação do que foi proclamado pela razão e antecipado por profetas, amparado pelos estudos de Eric Voegelin. A partir de então, nasce nele um interesse surpreendente pela doutrina católica. Isso o leva a buscar o Rito Gregoriano, o qual pôde presenciar quando esteve na capital paranaense.

Na Missa, ele conversa com dois fiéis que organizam a celebração. Propõe-se até a comprar o livreto com o Ordinário do Rito, tirando uma nota de 50 reais do bolso. Claro que não aceitam a oferta, pois um exemplar daquele custaria menos de 3 reais. O dinheiro fica para a igreja da Ordem, e o livro ele leva gratuitamente. Ao perguntar pelo Rito Gregoriano, contando do seu interesse de implantá-lo em Guarapuava, os organizadores contam de que já há gente se envolvendo nesta tarefa. Prometem contactar um fiel guarapuavano para que Jorge possa se juntar ao grupo.

Foi assim que vim a conhecer o Jorge. Ele, aliás, estava impaciente, com uma “santa pressa” para que pudesse encontrar pessoas o quanto antes. Seu amor sincero e incondicional pela verdade não podia esperar mais.

Conversando com Jorge, impressionava-me ver a sua disposição em praticar o bem. Ele fazia planos faraônicos para Guarapuava: se fosse necessário, ele estava interessado até mesmo em contruir uma Capela para receber o Rito Gregoriano. Ele queria levar a boa Filosofia para a sua Faculdade, ou então fundar uma Associação de discussão filosófica. Como ele mesmo me dizia, não podíamos nos dar o direito de errar. A mentalidade revolucionária, o modernismo, o relativismo e liberalismo vencem há séculos. Temos poucas chances, e elas devem ser certeiras.

Quando nos reuníamos para estudar doutrina católica e rezar o Terço do Rosário, ele sempre foi o primeiro a chegar. Pontualíssimo. Quando conheceu o grupo pela primeira vez, ficou muito emocionado, de avermelharem-se de lágrimas os olhos dele. Finalmente ele encontrou pessoas dispostas a conhecer e lutar pela verdade, num mundo apático e desinteressado. Jorge tinha um amor supremo, estava disposto a tudo. A sua honestidade intelectual não tinha comparativos.

Segunda-feira, dia 16 de novembro, a urna com as relíquias de São João Bosco chega em Guarapuava. Fui à tarde na Catedral rezar. Mas, quando eu já ia embora, me veio um pensamento. Por que não avisar todo o grupo católico da Missa para rezármos um Terço diante da urna de Dom Bosco? Afinal, a oportunidade era única. Avisei 7 pessoas, das quais somente 3 puderam comparecer ao nosso encontro, enquanto que outras 3 foram em horários alternativos. Marcamos o Terço para o dia seguinte, na terça-feira, às sete horas, sendo que às oito e vinte a urna deixaria a cidade em direção a Ponta Grossa.

Rezamos das sete até sete e meia. Além do Terço e da Ladainha de Nossa Senhora, Jorge foi rezar um pouco diante da urna de D. Bosco. Em seguida, nos despedimos, e combinamos de fazer uma reunião de estudo para sábado.

Acontece que Jorge chegou em casa, teve um infarto, e morreu.

O fato é inacreditável, num primeiro momento. Ele tinha apenas 51 anos, não aparentando ter problemas de saúde. Não posso deixar de ver a Providência neste evento, sob o risco de que eu caia em desonestidade intelectual ou cegueira espiritual. A minha consciência não me permitiria um absurdo desta natureza. Estou convicto da relação sobrenatural dos eventos.

São João Bosco, mesmo após morto, continua a perpetuar a sua santidade pelo tempo. Posso dizer que talvez a sua urna tenha visitado a cidade só para permitir que uma alma vá para o Céu, pois, se depender da programação da Diocese, teríamos “””apresentações artísticas””” deveras inúteis–senão estúpidas–perante a urna de Dom Bosco.

Jorge passou rapidamente pelas nossas vidas. Conheci-o há três semanas. A Providência colocou-o em nosso caminho só para ele ter uma boa morte, uma morte digna da sua vida de estudo e da sua busca incondicional pela verdade? Estou certo que sim.

Nossa Senhora dignou-se dar-lhe uma boa morte, após 53 súplicas da Ave-Maria: rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte.

São estas histórias que me fazem ter a convicção de quem busca sincera e dedicadamente pela verdade, há de encontrá-la. Deus não abandona um filho seu com fome de justiça.

Ademais, o tempo pertence a Deus. Não sabemos qual é a hora de nossa morte, e por isso mesmo Nosso Senhor já advertia de que devemos estar preparados. Ainda que Deus tenha o direito de nos tirar a vida quando bem lhe aprouver, Ele, misericordiosamente, dá-nos sempre a oportunidade de morrermos bem, amparados pela sua graça. Jorge soube corresponder à graça. Quantos e quantos a ignoram! Quantos negam os sinais de Deus que não cessam de perturbá-los, insistindo pela conversão! A conversão é iminente! Amanhã pode ser tarde demais. Que ninguém recuse as chances de Deus para suas criaturas, pois de nada adianta um homem ganhar a vida se vier a perder a sua alma.

Depois deste relato que clama por uma visão sobrenatural dos eventos, peço a todos que incluam em suas orações pelo descanso eterno de Jorge.

Que Nossa Senhora do Carmo continue a interceder por ele.

Ivan Chudzik

Comments

comments