Estas duas cartas – a segunda, principalmente – mostram como o Brasil de hoje é um país anormal, doente, roído de inveja m esquinha, de ressentimento despropositado e absurdo. A alma desse país reflete a daqueles que o educam – os intelectuais de esquerda da minha geração, que já declarei ser a mais canalha e torpe de quantas nasceram neste solo. Os fracassos dessa geração nasceram da sua ignorância pomposa, da sua inépcia arrogante, da sua pretensão infinita de poder chegar a ser, a preço baixo, a encarnação fácil do bem e das luzes num mundo mau e sombrio. Nunca uma gentinha tão miúda chegou a ter nas mãos o destino de uma grande nação. Graças a esse fenômeno, os sentimentos mais vis e desprezíveis foram aceitos como altas manifestações de virtude e tornaram-se a base de todos os julgamentos. A inveja, o rancor, a covardia, o oportunismo que tudo sacrifica em prol da destruição dos adversários – eis hoje as bases da nossa tão apregoada “ética”. Mas em nenhum momento a baixeza chegou tão fundo quanto nas reações de milhares de intelectuais, de jornalistas, de estudantes brasileiros, diante dos atentados de 11 de setembro. Nunca, na história humana, um genocídio, abertamente reconhecido como tal, foi aplaudido e festejado de maneira tão ostensiva e despudorada. Na esquerda nacional, somente os personagens mais notórios, ciosos de suas reputações ante o público maior, reprimiram a manifestação de seus sentimentos, reservando-os para um círculo íntimo e substituindo-os diante das câmeras por palavras convenientemente ambíguas. Os demais, sentindo-se protegidos pela sua própria insignificância, deitaram e rolaram. Mostraram sem pejo o que são e o que pensam. Eu sempre soube que eles eram isso. Mas nunca imaginei que bastasse uma provocação mais forte para fazê-los exibir o conteúdo podre de suas almas de ratazanas.

Obrigado, Milla Kette, por mostrar que, à distância de um hemisfério, a feiúra dessa gente se torna ainda mais visível. – O. de C.

19 ago 2001

Prezado Senhor:

Vivi no Brasil até uns cinco anos atrás, quando peguei meu (invejado, diga-se de passagem) passaporte, minha filha, vendi meu pequeno apartamento e mudei-me para os EUA.  Nasci aqui quando meu pai estudava em Stanford, CA (um antro de left-wingers, he, he).  De familia brasileira, fui criada em Salvador, Rio e Porto Alegre, tendo vivido em Gramado depois de casada.  Estou com 42 anos e minha filha, de 19, estuda na Universidade aqui.

Tomei conhecimento de seu trabalho atravé do Forum de discussão Politica da UOL, quando alguem postou um texto incrivelmente realista e verdadeiro seu, onde acusa os Lefties brasileiros de xenífobos, entre otras cositas más.  Sou casada com um Yankee (como falam os Brits) e moro em Ohio.  Meu esposo, um naïf, ficou apavorado com a brutalidade das acusacões contra os EUA, seu povo, sua cultura, seu Governo, emfim, tudo.  Eu fui raivosamente atacada num web site chamado Politica Global (http://www.politicaglobal.com.br/) quando exigi que apresentassem o texto do Acordo de utilizacão da Base de Lancamentos de Alcântara, o qual criticavam juntamente com os EUA.  Além de receber dois e-mails cheios de ofensas do autor do “artigo”, ainda ligaram minha carta a um “artigo” contendo os maiores absurdos e acusacões contra mim e os EUA, em vez de publicá-la na devida secão, juntamente com todas as outras. Ha mais ou menos um mês os venho desafiando para que publiquem o texto do Acordo que, ora eles dizem ser confidencial, ora que o enviarão a quem pedir por e-mail!

Acabei caindo no UOL, batendo de cara com aquele monte de marxistas disfarçados em adoradores do PT.  O que nos choca mais que tudo – a meu esposo e a mim –é a total ignorância de fatos históricos, não só mundiais, mas mesmo do Brasil, que demonstram essas pessoas que querem discutir com pretensões de donas da verdade.  Me entristece muito, como brasileira que
sou, saber que tantos dos meus patrícios odeiam a riqueza e a independência que os americanos adquiriram à forca de muito trabalho, muita luta e fé. Sinto-me na obrigacão de fazer algo, mas a tarefa parece-me gigantesca.

Meu sonho – na verdade, adaptado para a realidade depois que conheci meu esposo, alma pratica americana – é abrir escolas no Brasil e recolher crianças de rua a fim de formá-las para a vida, mostrar a eles que há uma chance se trabalharem duro, com honestidade e retidão.  Sou espírita e não posso deixar de me sentir na obrigação de ajudar.  Meu humilde plano é juntar dinheiro para essa façanha.  Descobri aqui (quem diria) que tenho um especial talento para escrever!  Tenho escrito em inglês, incentivada por uma professora que tive na faculdade.  Gostaria de escrever, publicar e reverter toda a renda para a prática desse plano.

Queria enviar-lhe os parabéns, em meu e no nome de meu esposo, pelo excelente trabalho que mostra no seu web site.  Gostaria tambem de pedir-lhe que, se sobrar algum tempinho em sua agenda, que, tenho certeza, é cheia, escreva-me e aconselhe-me sobre as possibilidades (se existirem) de penetrar no mercado literario brasileiro.

Agradeço imensamente sua atenção e peco desculpa por não fazer uso de acentos.  Primeiro, não sei se nossos programas são compativeis e, segundo, dá muito trabalho…   🙂

Milla Kette

12 set 2001

Prezado senhor,

Esta manhã acordei com um gosto amargo na boca e o coração pesado e triste.  Ontem presenciei o mais vil ataque que o fanatismo, a prepotência e a ignorância podem engendrar!

Em outra ocasião — cerca de duas semanas atras — escrevi para parabenizá-lo por seus artigos, bem como por seu web site.  Infelizmente, neste momento faço-o para levar a seu conhecimento um fato que me chocou e encheu de revolta e terror.  Nos fóruns de discussão politica do UOL, pululam textos de cidadãos brasileiros — meus conterraneos, apesar de ter nascido nos EUA — dando vivas pela desgraça que se abateu sobre este bastião da liberdade…  Jamais imaginei que veria — vindo do povo com o qual convivi quase toda minha vida — tamanho ódio cego e revolta ignorante, alimentados contra um país simplesmente porque ele é um sucesso!  Ontem senti vergonha ante a expressão chocada de meu marido (americano) quando traduzia as palavras horriveis expressas no UOL; senti vergonha do passaporte verde que apresento nos aeroportos brasileiros quando em visita à minha familia e amigos queridos…  Esses arrogantes julgam-se Deus e crêem-se no direito de julgar e condenar, sem jamais terem visto, sem nem entenderem o que ou como chegam a tais julgamentos, acreditando na propaganda anti-Americana que muitas agencias noticiosas têm levado avante.

Eu olho as cenas na TV — a teratológica imagem dos aviões chocando-se contra oWorld Trade Center, as torres ruindo, tomando de surpresa os que tentavam retirar-se da área, o Pentagono em chamas –” e o que mais me choca não é apenas o numero de vidas sacrificadas ao fanatismo e ao ódio cego, é que os monstros raivosos, de bocarras espumantes, arreganhadas, os corações negros de inveja e sentimentos de inferioridade, esses, como os loucos que vejo vomitando ódio contra os EUA nesses fórums, são seres humanos, como eu!!!  A única diferenca que, em meu entendimento, separa esses fanáticos que expressam seus complexos de inferioridade com palavras nos forums do UOL e os monstros que atacaram fisicamente os EUA é apenas que os segundos colocaram na prática o ódio insano e sem base que alimentam!  Como eles, os que se escondem atrás de palavras são tambem covardes.  Não consigo crer que o horror que vi na TV ontem seja acolhido por alguns brasileiros como uma “licão” para os EUA!  Quantas lágrimas rolaram de meus olhos ontem, não sei dizer, mas muitas foram por saber que alguns dentre meus conterrãneos abrigam um ódio insensato em seus corações contra um povo que nem ao menos conhecem.

As palavras de um sobrevivente e não as imagens terríveis mostradas pela TV chocaram-me ainda mais ante a ferocidade de tais comentários.  Ele relatou que havia conseguido sair da primeira torre, quando destroços do avião que se chocou com a segunda torre e do proprio predio em que ele estava comecaram a cair.  Em seguida, palavras dele, grandes pedaços comecaram a atingir o solo e carros estacionados nas proximidades do WTC.  Enquanto corria para salvar-se, ele pôde olhar esses “destroços” mais detidamente.  Eram corpos em chamas de pessoas que escolheram o espaço entre os 110 andares e o solo de Manhattan à horrenda morte pelo fogo e pela fumaça…  Que povo merece tal horror, é o que gostaria de perguntar às mentes doentias que, entre outras barbaridades, escreveram: “Bem feito!”. Que povo merece assistir às mortes de mais de 10 mil cidadãos inocentes?  Estou certa de que esses fanáticos estão tão contentes quanto os monstros que planejaram e perpetraram esse ataque a um dos bastiões da liberdade nesse mundo de tantos Fidéis Castros!

Quem quer que tenha sido o perpetrador dos ataques de ontem, não atingiu o coração econômico de Manhattan, não destruiu simbolos da independência econômica, politica e militar dos US.  Os criminosos ceifaram vidas de cidadãos honestos, homens e mulheres que, com seu trabalho e dedicação, fazem dessa nação a potência que o mundo conhece e, infelismente constatei, inveja.  Não foram o Pentagono ou o WTC o que se perdeu ontem, pois que esses podem ser reconstruídos tão rapidamente que assombraria o mundo.  Foram as vidas de cidadãos inocentes, representantes genuínos dos ideais de um povo inteiro — um povo que se ergue do lado oposto ao dos covardes sem rosto que não tiveram a coragem de assumir a responsabilidade pelo ato vil que perpetraram contra trabalhadores honestos!

Esses cães famintos pela desgraca dos Estados Unidos da América regozijam-se com a tragédia que abateu CIVIS!  Dançam em volta dos destrocos dos avioes que vejo em volta doWorld Trade Center, dos corpos cremados, esmagados pelo colapso dos edificios e o choque dos aviões!  Meu único consolo, enquanto as lágrimas lavam meu rosto e uma oração escapa dos meus lábios em prol desses inocentes sacrificados à sanha de fanaticos enlouquecidos e insensíveis, esses paladinos do terror, que desejam impor seu conceito de “liberdade” à custa do sacrifício de vidas inocentes!, meu único consolo é que esses infelizes serão um dia julgados por um tribunal do qual nenhum de nos escapa.

As torres do World Trade Center ruíram, levando consigo vidas preciosas, espalhando destroços por mais de cinco quadras ao seu redor. Lower Manhattan e’ apenas uma gigantesca nuvem de fumaça branca e negra no horizonte, vista pela TV e nas fotos dos jornais; o Pentágono foi atacado e sua negra fumaça sobe ao céu, falando das 800 pessoas mortas ali; um carro bomba explodiu no State Deparment em Washington;  um avião de carga caiu na Pennsylvania, matando tantos outros civis; mas a Estátua da Liberdade ainda empunha para o mundo a representação do mais caro anelo do povo Americano: Liberdade!

Peco-lhe, humildemente, que, utilizando-se dos meios de comunicação que tem em mãos, chame à razão (se tal é possivel!) essas pessoas que — temporariamente, espero — perderam a mínima noção do significado do respeito pela vida humana!

Perdoe-me ter escrito tanto e agradeço-lhe se chegar ate aqui.

Milla Kette

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