Por José Nivaldo Cordeiro


9 de Junho de 2002

De forma nenhuma a competição da FIFA camufla os nossos problemas sociais. É uma grande besteira pensar assim. Quem, como eu, acompanha o movimento do comércio, tem um bom termômetro para perceber o impacto da Copa do Mundo
sobre o comportamento das pessoas. Nas copas passadas, quando os horários dos jogos caíam em período diurno, as vendas a varejo praticamente cessavam: as pessoas simplesmente optavam por ficar em casa ou em locais de reuniões, dando uma banana para o trabalho, para a escola e naturalmente para a compras. É um fenômeno sociológico notável.
Com os jogos acontecendo de madrugada imaginei que tal comportamento fosse ser modificado. Afinal, a maior parte das pessoas detesta ter o seu sono perturbado e também ficar insones por bobagens. Enganei-me redondamente:
desde que começou o certame o movimento nos shopping centers caiu, especialmente no dia do primeiro jogo do Brasil (escrevo na quarta feira).

Segundo eu pude perceber, as pessoas acompanham não apenas os jogos do Brasil, mas os demais também, especialmente aqueles envolvendo as forças tradicionais do futebol, como Argentina, França, Alemanha e Itália. Então não é possível manter o ritmo de vida normal, de maneira que o fluxo no
comércio cai. O fato é que a Copa do Mundo é um grande espetáculo. A elite do esporte é reunida em confrontos decisivos, explorando o que há de melhor na arte de jogar futebol. As pessoas que gostam do esporte não perdem nem jogos fora de horário normal. É uma forma de arte, o futebol bem jogado. O
gol de Ronaldinho contra a Turquia, por exemplo, assim como o passe do Rivaldo, foram um momento mágico. Como não se encantar com a jogada?

O que acontece é que as pessoas simples podem ter acesso barato, via TV aberta, a um evento requintado, feito ao custo de bilhões de dólares, o supra sumo do esporte do qual aprendemos a gostar, até porque o Brasil é uma
das suas forças inegáveis.

Imaginar que a eventual vitória ou derrota do Brasil irá beneficiar o Governo ou a oposição não passa de especulação de sociólogo de botequim. O lazer e a arte trazidos pelo esporte apenas servem para refrescar as dores e as feridas do povo sofrido. Nem politiza e nem despolitiza ninguém. E se alguém tentar ligar uma coisa com outra, o candidato audacioso será vaiado.

Afinal, a única coisa verdadeiramente ecumênica, que une todos os brasileiros, de esquerda e de direita, ricos e pobre é o futebol. Mas o consenso acaba aí. Fim de jogo, enroladas as bandeiras, a vida continua, cada um na sua.

E, bem a propósito, o meu time era o Emerson e mais dez. Perdemos o nosso gladiador. Ainda assim, acho que o Brasil será campeão. Pra frente, Brasil!

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