Por José Nivaldo Cordeiro


27 de Maio de 2002

Eleger um inimigo declarado dos rebeldes, que lhe ceifaram covardemente o pai, não poderia ser uma mensagem mais clara do povo colombiano para o seu governo: a guerrilha precisa ser destruída. É esse o mandato claro que emerge das urnas. É isso que o presidente Álvaro Uribe Vélez vai procurar fazer.Não será fácil, no entanto. Um movimento armado de insurreição, que já dura três décadas, tem raízes profundas. Debela-lo demanda, além de vontade política, esforço econômico de guerra e competência militar, também a ajuda dos países amigos. Se a Colômbia, sozinha, pudesse ter vencido as FARC, já o teria feito. É previsível que o governo norte-americano se envolva mais no problema, seja enviando recursos, seja enviando assessores e meios militares.

E o Brasil? Como país de maior envergadura do subcontinente Sul-americano, não poderá se omitir. Sei que razões ideológicas paralisam o atual governo no que tange a um apoio aberto ao povo colombiano contra a guerrilha de esquerda. Ao Brasil, todavia, está reservado um papel relevante no processo, ainda que seu governo não o deseje. O acirramento do conflito armado coloca imediatamente o desafio da exportação eventual das ações militares para nosso território, de um lado, e o risco de uma onda de imigração de refugiados de guerra, do outro. Ambas as situações serão de difícil administração.

O correto seria uma posição afirmativa e de liderança do Brasil na ajuda internacional à Colômbia, seja no âmbito militar, seja no âmbito econômico. Assim, seria possível, com muita rapidez, pôr um fim à capacidade operacional dos rebeldes. Mas não percebo essa vontade política no atual governo e nem no provável sucessor de FHC. Não posso deixar de pensar que esse é um erro estratégico lamentável, que muito poderá nos custar.

O pior dos cenários é um envolvimento de tropas norte-americanas no teatro de operações de guerra. Pensando em termos geopolíticos, seria muito ruim, não apenas para o Brasil, mas para o conjunto dos países sul-americanos. Abriria um precedente perigoso de intervenção militar de uma potência de fora. A única maneira dessa realidade não acontecer é o Brasil e seus vizinhos chamarem para si a responsabilidade, que sempre foi sua.

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